Grey City
Estou numa cidade cinzenta, sem alma, sem sangue a correr-lhe pelas veias... morta a tanto tempo...
Todas as pessoas têm os olhos fechados e a boca cozida... não há nada para ver, não há nada para dizer, nada para ouvir...
Os pássaros voaram para longe, os cães foram embora e os gatos deixaram de miar, sendo agora um monumento a ausência de vontade que os donos têm...
Até o vento foi embora, a tanto tempo que não sinto uma brisa... tanto, tanto tempo... Mas não ta calor, uma nuvem da cor da cidade cobre tanto sol como lua ou estrelas... as plantas à muito que morreram... tal como a capacidade de sonhar...
Tenho vontade de fechar os olhos como todos os outros, entregar-me a monotonia do dia a dia e esperar calmamente que me chamem para ser processado com uma qualquer rapariga da minha idade para assegurar a continuidade da espécie... mas para que ? já não somos humanos... mas não consigo fechar os olhos... não consigo simplesmente... esperar...
Estou a frente da única parede branca da cidade... perdida num beco escuro onde ninguém vai, pois já não existe a necessidade de deambular e a periferia a muito que foi abandonada...
Na minha mão tenho uma lata de tinta, cheia com o ultimo fragmento de sangue da cidade... com ele escrevo uma única palavra, um testamento para o futuro, pois eu não vou ser diferente por muito mais tempo, mas um dia alguém mais forte que eu vai aparecer e fazer a diferença... espero que a minha mensagem ajude...
ESPERANÇA
Mal consigo acabar o ultimo A ... já não há mais nada que eu possa fazer e o chamamento da rotina começa a ficar mais forte...
Quanto tempo falta até eu fechar os olhos como os outros todos ?
Oiço um pássaro a cantar...
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