Wake

Recupero a consciência e a primeira coisa que sinto é o bater do teu coração. Passaste a noite aninhada nos meus braços e adormeci com a mão sobre o teu peito. Fico incontáveis instantes a olhar para onde o teu rosto deveria estar e apesar da escuridão do quarto me deixar ver apenas uma forma desfocada sei o que está ali.

O rosto de um anjo caído do céu, condenado por um qualquer pecado a ficar a meu lado...
Perco a conta ao numero de vezes que te digo, todos os dias, que não te mereço e a resposta é sempre a mesma. Dás um beijo no teu indicador direito e encostas-o aos meus lábios antes de eu acabar a frase, olhas-me nos olhos com um suave shh.

Não existem segredos entre nós, duas metades de uma mesma alma presas em corpos diferentes... metade das vezes nem falamos, um olhar chega para que todos os argumentos e ideias sejam trocados, todos os pedidos realizados e desejos partilhados.

Uma vez tivemos a falar durante horas e no final disseste que no primeiro instante já sabias tudo o que eu ia dizer... só querias ouvir a minha voz... O que eu não te disse na altura é que o contrario também era verdade...

Antes de ouvir o primeiro sinal, antes de ver o primeiro movimento sei que acordaste. Por um momento tenho medo de te ter acordado, mas depois percebo que todos o tempo que tive a olhar para ti nem a um segundo chegou... uma batida de coração...

Seguras a minha mão e apertas-a contra o teu peito.

Nenhum de nós fala, mas no silencio a mensagem é clara e vai em ambas as direcções.

Esticas-te para cima e beijas-me os lábios ao de leve voltando a aninhar-te nos meus braços.
Volto a deitar-me e inspiro profundamente, enchendo-me do teu cheiro.

E então adormeço, ansioso por voltar a acordar e poder ver-te outra vez.